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12/04/2020

Desprovida

Eu olho o meu reflexo no espelho. O que estou fazendo comigo mesma? Foto de Noah Buscher em Unsplash.
Ela passava facilmente despercebida no meio da multidão. Não possuía nada de especial ao primeiro olhar: ombros caídos, cabeça baixa, olhos que se distanciavam da realidade. Ela passava despercebida na vida. Não cultivava amizades sinceras e duradouras, e costumava isolar-se em qualquer lugar que pudesse oferecer a tranquilidade que não encontrava em seu interior.

Aparentava viver em paz. Uma paz que incomodava e afastava quem ousasse interferir em seu suposto equilíbrio. Parecia ser o suficiente para si mesma, sem que a falta de alguém consigo se fizesse notar. Por dentro, era um turbilhão de sentimentos que se enroscavam, se emaranhavam e faziam estragos irremediáveis em sua alma, já aquebrantada e acostumada à solidão inerente ao peso do pesar. Ao peso do culpar. Ao peso do lembrar. Ao peso de, a cada mísero dia, se odiar.

Se, talvez por um acaso do destino, alguém um dia decidisse notá-la a descreveria com apenas uma palavra: desprovida. Desprovida de laços, de sonhos, de viver - no sentido mais amplo da palavra. Desprovida de si. Há muito não sabia o que era sorrir espontaneamente, ver a beleza da vida ou a sua própria. Há muito convivia apenas com um buraco negro no peito que sugava qualquer centelha de esperança, de felicidade, de possibilidade. 

Possuía o estranho hábito de olhar para o céu, irrequieta. E, se questionada a respeito, diria estar procurando na imensidão do vazio um sentido na existência. Um amor entre desamores, apego em desapegos. Uma resposta na constância da dúvida. Talvez...


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Há muito tempo escrevi esse texto, quando estava mergulhando fundo no poço da depressão. Pensei em deletar mas, assim como a minha tatuagem, é como um lembrete de que eu sobrevivi aos momentos difíceis. Ver essas memórias não mais me causa dor: só faz fervilhar o orgulho da força que carrego dentro de mim. Já não me vejo refletida nesse vazio, mas sei que quem eu fui é parte importante de quem sou hoje.

Ufa! Ainda estão por aí? Vocês preferem carregar pedaços de quem foram, por mais dolorosos que sejam, ou simplesmente deixar ir?
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Essa postagem faz parte do projeto Fora da Caixa, em que algumas blogueiras desafiam a criatividade com temáticas mensais. Dessa vez, o tema foi reflexo. Também participam do projeto: 

VOA, LIBELINHA
VOA! 🙘


Postagem original: 22/09/2012 • Atualização: 12/04/2017 [revisão gramatical e ortográfica] • Atualização: 12/04/2020 [adição de imagens e nova estruturação do texto]

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