Até onde você iria por algo que deseja?
Dizem por aí que foi a curiosidade que matou o gato... mas poderia muito bem ter sido a ambição. Desejar algo é absolutamente normal, mas existem pessoas que não conseguem lidar com o fracasso - e tomam medidas drásticas para garantir que nada fique no seu caminho. E quando, por um golpe do destino, você se vê envolvido em uma trama mortal por uma antiguidade rara?
Lila Emerson leva a vida exatamente do jeito que sempre sonhou: independente e livre. Ganhando a vida como cuidadora de casas profissional, ela não passa mais do que algumas semanas em um mesmo apartamento, viajando de um lado para outro em Nova York - e até internacionalmente, nos últimos meses. Suas viagens, além de pagarem as contas, garantem também inspiração para escrever os livros adolescentes que complementam sua renda, além de material para um hobbie um tanto quanto estranho... No meio tempo entre cuidar de uma casa que não lhe pertence e as aventuras de uma lobisomem chamada Kaylee, Lila observa pessoas.
Por algum motivo, ver a vida dos estranhos pelas janelas abertas e criar sua própria história para eles era algo que a fascinava. Uma forma de conhecer as pessoas sem nunca ter, de fato, tido contato com elas. Em uma noite particularmente insone, contudo, ela acaba presenciando algo que não estava preparada para ver: o casal excepcionalmente bonito de um dos apartamentos parecia estar brigando, de novo - eram conhecidos por suas discussões homéricas e por terminarem fazendo as pazes na cama -, e não seria novidade nenhuma caso a mulher não tivesse sido empurrada pela janela do décimo quarto andar.
Não bastasse o assassinato da modelo Sage Kendall, o suspeito do crime - Oliver Archer, seu namorado - é encontrado morto, como se tivesse se suicidado logo depois do ato. Mas alguma peça desse quebra-cabeças não encaixava: Ashton Archer, irmão de Oliver, se recusa a acreditar que o irmão mimado seria capaz de tamanha violência... mas encrenqueiro do jeito que era, poderia muito bem ter se metido com as pessoas erradas. Sendo a única testemunha ocular do ocorrido, Lila se vê envolvida em uma investigação policial que fica cada vez mais complexa - e perigosa.
Algumas considerações iniciais sobre minha experiência com esta leitura: só tive contato com um livro da Nora Roberts em minha vida literária, o primeiro volume da Trilogia do Círculo (que, inclusive, adoraria terminar) - ou seja, O colecionador é de um gênero completamente diferente daquele que me apresentou à narrativa da autora. Creio que isso contribuiu muito para o efeito que a leitura teve em mim: a princípio, gostei muito da obra mesmo que uma parte do livro tenha sido enrolada... só depois fui digerir e perceber que alguns aspectos da narrativa me incomodaram.
Não ouse me deixar para trás
Lila Emerson conquistou meu coração. Digo isso sem rodeios ou receios, porque é a mais pura verdade: a independência e força dessa mulher que luta pela sua liberdade, sua capacidade admirável de se virar sozinha e, mais do que tudo, a empatia enorme que ela demonstra são as características que eu mais prezo em qualquer pessoa - real ou fictícia. Ela não é alguém que se deixa ser cuidada - como o próprio Ashton tenta fazer diversas vezes - porque ela sabe muito bem cuidar de si mesma, obrigada. Não é uma pessoa de receber ordens porque, meu amigo, ela sabe muito bem o que quer. Lila Emerson é um cigana, é uma guerreira. É uma mulher.
Por outro lado... Ashton. O clichê do cara absurdamente atraente que se apaixona perdidamente pela mocinha. O que me incomodou foi o fato de que, por baixo da preocupação em cuidar da família e do charme, ele não é nada mais do que um idiota que acha que pode mandar em todo mundo. Não me levem a mal, o cara também me arrancou uns suspiros com seu olhar intenso e mãos sujas de tinta - mas nada compensa o fato dele achar que pode controlar a tudo e a todos ao seu redor. E estaria tudo bem esta ser a personalidade dele... se a autora fizesse com que ele evoluísse, ao invés de convencer Lila de que "é o jeito dele, então está tudo bem".
Espera, como a gente chegou aqui?
Embora a trama no geral tenha me agradado, sinto que Nora Roberts pecou em dois aspectos: faltou desafio e faltou foco. Não sei se vocês concordam mas, quando se trata de suspense, eu gosto de ter a oportunidade de tentar revelar o mistério por conta própria - e nessa obra não existe brecha alguma para o leitor fazer isso. As coisas vão acontecendo, às vezes tão rápido que o leitor fica perdido e às vezes tão devagar que parece que estacou - e é aí que entra o segundo ponto. Em certa altura da narrativa, o foco foi completamente deslocado do mistério para o romance, ficando toda a trama em segundo plano... e isso tem consequências no final. O último quarto do livro é muito corrido, novos personagens e informações são jogados no colo do leitor sem qualquer cerimônia - e por meios risíveis, vale mencionar. A sensação que passa é que o romance acabou por ser melhor desenvolvido do que as resoluções do conflito... e, mesmo que a narrativa de Nora Roberts seja envolvente nas duas situações, isso fez com que a obra caísse bastante no meu conceito.
Creio que O colecionador é uma boa leitura para os fãs de Nora Roberts - imagino que ela siga padrões de narrativa semelhantes em outras obras - e também vale a pena para quem quer conhecer a autora: os personagens são cativantes, os diálogos são fluidos e a ambientação realmente captura a atenção do leitor. No entanto, acredito que os consumidores mais exigentes do gênero podem acabar se decepcionando com o decorrer do enredo.
"- Segundas chances são mais assustadoras do que as primeiras, porque você já sabe o quanto está arriscando." p. 243
Título: O colecionador | Autor: Nora Roberts | Editora: Bertrand Brasil | Páginas: 462 | Skoob
Vocês já conheciam essa ou outras obras da autora? Se interessaram por O Colecionador? M contem nos comentários!
Obra recebida como cortesia do Grupo Editorial Record. Isso não afeta a honestidade da minha opinião!