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21/02/2018

Eternidade

Notas eternas de um violão
Photo on Visualhunt.com
por Luciano Starling

Numa pausa entre músicas tradicionais e hits contemporâneos, o silêncio se torna diferente e a massa humana que se espreme na imensidão da boêmia ruela carnavalesca se indaga quanto ao que está para acontecer. Casais de todos os tipos interrompem os cortejos, os grupos agitados de amigos suprimem os reflexos de corpos a dançar, e todo ser vivente daquela rua sem saída dirige o olhar ao pequeno palco com ar de improvisado.
Uma jovem moça, de feição tão neutra que nada revela sobre sua personalidade, anda morosamente ao centro das atenções, e lá se posiciona sentada confortavelmente em um banquinho, frente a um microfone colocado ali momentos antes. Microfone esse que esperava especificamente por tão humilde intérprete.
A moça abraça amorosamente um violão de beleza cândida. Ela estala os dedos como se preparando para manter a precisão e firmeza perfeitas para a execução de sua performance. Ela parece gozar de cada segundo de expectativa produzida por sua prolongada preparação e, depois de um leve pigarro, seus dedos começam a se mover impiedosamente pelas cordas do instrumento que agora vibra furiosamente em seu colo.
A melodia que se origina da inesperada artista começa por flutuar sem rumo entre os foliões, que esperavam por canções sobre festa e curtição mas acabaram por ganhar uma mescla de notas rápidas e metáforas sobre amor numa doce e firme voz. Palavras que pouco a pouco tocam os corações de todos, e o povo volta a dançar, mas agora num ritmo arrastado e vistoso, acompanhando tão linda canção.
Vagarosamente o clima de toda a ruela se adequa ao espetáculo, auxiliado pelo crepúsculo que emoldura a origem da melodia que teima em não terminar. Corações se esquentam aos poucos, sorrisos puros inundam a multidão e todos presentes concordam que aquela rua sem saída não pertence mais ao mesmo mundo de guerras, destruição e tristeza. Cria-se ali um santuário, onde as luzes fracas tornam o agora eterno. Onde a música envolvente torna os sorrisos sinceros. Onde o calor humano faz dos corações apenas um, um único coração unido pela eternidade, num espetáculo que acaba dentro de alguns minutos junto de aplausos tão demorados quanto a eternidade que acabou de passar.
Este texto foi escrito pelo meu namorado, Luciano Starling, para o projeto Na Ponta da Caneta, do Who's Thanny, cujo tema de fevereiro era bloco de carnaval.

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