Há algum tempo atrás, bateu aquela nostalgia dos meus tempos de anime na adolescência ⎼ que, por sinal, não durou lá tanto assim. Embora eu já acompanhasse por muitos anos as animações japonesas que eram transmitidos na televisão aberta, como Pokémon, só fui conhecê-los em sua especificidade quando me mudei para uma rua em que todas as pessoas da minha idade eram aficionadas pelo meio de entretenimento. E não havia como fugir da influência: afinal, por coincidência do destino, o "núcleo vicioso" era a garota da casa ao lado que fazia questão de não apenas me indicar animes como de me emprestar os episódios gravados e mangás que ela tivesse disponíveis ⎼ uma grande influenciadora da vida real, digamos assim. Com todas essas lembranças rodando a minha mente (e arrancando um sorriso de saudade daquela época boa), a ideia surgiu e eu não pude deixar escapar: decidi rever algumas das obras que marcaram meu breve período otaku e compartilhar com vocês minhas impressões sobre eles depois de tantos anos.
O anime Vampire Knight é baseado no mangá homônimo de autoria de Matsuri Hino publicado entre os anos de 2004 a 2013 na revista LALA. No Brasil, a obra foi publicada pela Panini a partir de 2007. Ambos, mangá e anime, são do gênero shoujo ⎼ estilo com temáticas abrangentes, desde dramas históricos até ficção científica, mas geralmente com foco forte em relacionamentos românticos e emoções humanas. A história se passa no Colégio Kurosu (Cross, na versão americana), um internato de prestígio que se divide em duas turmas: a day class (classe diurna) e a night class (classe noturna) ⎼ um colegial como qualquer outro, exceto pelo fato de que os alunos desta última são todos vampiros. O diretor da instituição, Kurosu Kaien, é um dos poucos que acredita na convivência pacífica entre a humanidade e os seres sobrenaturais: para tal, os vampiros são terminantemente proibidos de se alimentar dos colegas humanos, que ignoram a real natureza dos misteriosos e belos alunos da classe noturna.
Não é nenhuma surpresa, porém, que adolescentes infringem regras ⎼ e se torna especialmente difícil de suportar a tentação quando os vampiros são figuras tão irresistivelmente atraentes. Para garantir que a ordem seja mantida, tanto do lado dos vampiros quando do lado dos hormônios adolescentes, os únicos dois alunos que têm ciência da existência dos vampiros são escalados como "monitores" que, na realidade, atuam como Guardiões do Colégio: Kurosu Yuuki e Kiryuu Zero, além de tentar miseravelmente impedir os assédios na troca de turno, também fazem rondas durante a noite com suas armas anti-vampiros para assegurar a proteção dos humanos. Os dois alunos, filhos adotivos e por consideração do diretor da instituição, conheceram a realidade vampiresca por perspectivas muito diferentes ⎼ o que reflete em suas relações atuais com os seres. A primeira lembrança de Yuuki é de ter sido salva do ataque de um vampiro nível E (que perde a consciência para seus instintos agressivos), por Kuran Kaname ⎼ um sangue-puro, descendente de uma renomada linhagem vampírica, e atualmente líder dos alunos da classe da noite. Zero, por sua vez, é acolhido por Kaien após presenciar toda a sua família ser brutalmente assassinada por uma vampira puro-sangue. Enquanto a garota acredita piamente que nem todos os vampiros são seres malignos, Zero alimenta um ódio profundo por cada um deles.
Talvez essa não tão breve sinopse já tenha captado sua atenção e te convencido a assistir Vampire Knight, ou talvez tenha tido o efeito contrário de te fazer querer fechar essa aba do navegador imediatamente. Peço que tenha só um pouquinho a mais de paciência, porque acho que pode valer a pena saber alguns prós e contras do anime antes de se exaltar:
Assistir...
1. Vampire Knight é um anime curto, tendo apenas duas temporadas de treze episódios cada, vinte e seis no total. Embora para alguns possa não parecer uma grande vantagem (ou até mesmo ser um ponto contra), esse aspecto conta bastante para mim porque até hoje eu não tive paciência para terminar nenhum anime grande. Começo, vejo um bom bocado e acabo abandonando com o tempo ⎼ aí quando vejo já esqueci até o nome dos personagens, então teria que re-assistir pelo menos alguns episódios e... bem, preguiça.
2. Em alguns momentos, o desenvolvimento narrativo pode se tornar um pouco mais denso e sombrio ⎼ especialmente quando alguns segredos vão sendo aos poucos revelados ou quando algo grandioso está sendo tramado bem debaixo dos nossos narizes. Por isso, os momentos de alívio cômico se tornam importantes: tanto para dar um tom mais leve e divertido no decorrer da trama quanto para que o telespectador crie uma certa ligação com os personagens ⎼ seja com a desastrada e ligeiramente exagerada Yuuki em suas frequentes discussões com o inflexível e relapso Zero, o dramático (embora claramente badass) Kurosu Kaien ou o pobre coitado apaixonado pela vampira Ruka.
3. Os protagonistas apresentam narrativas de vida ricas e complexas, com camadas que são desvendadas aos poucos e que refletem em suas personalidades ⎼ justificando, de certa forma, suas atitudes e comportamentos. Em minhas pesquisas, descobri que Kuran Kaname foi retratado de forma muito mais insensível no anime do que no mangá, onde ele se mostra muito mais agradável e gentil com Kurosu Yuuki: talvez assim eu fosse capaz de ter ALGUM apreço pelo personagem [#teamzero].
4. Embora demore uns bons episódios para pegar no tranco, devido à longa contextualização feita a respeito de quem são os personagens e de como funciona a hierarquia vampírica, Vampire Knight apresenta um enredo cativante: muitas das reviravoltas nos pegam desprevenidos e os personagens vez por outra revelam facetas que nunca imaginávamos existir.
...ou não assistir?
5. O maior ponto fraco do anime é aquele que poderia ter sido seu ponto forte: Kurosu Yuuki é uma protagonista feminina fraca e frágil. O que não faz sentido algum, por sinal. A garota, treinada para trabalhar como Guardiã do Colégio portando Ártemis, o bastão anti-vampiro, mal consegue mantê-lo em suas mãos. Sempre a colocam em uma posição de donzela em perigo, que precisa ser salva por Zero ou protegida por Kaname ⎼ sinceramente? Ninguém merece. Só a deixaram demonstrar algum tipo de coragem quando ela se sacrifica para ajudar outros personagens masculinos a ficarem mais fortes, o que só reforça o estereótipo da mulher que só pode ocupar um lugar de suporte ou apoio para o desenvolvimento de um homem. Uma personagem com potencial desperdiçada, no final das contas.
6. Na mesma medida em que os protagonistas possuem panos de fundo ricos, os personagens secundários são rasos. Poderiam ter sido muito melhor trabalhadas as histórias de algumas figuras de peso que passaram pelo anime apenas para cumprir o seu papel ⎼ como o próprio Kurosu Kaien e Yagari Touga, renomado caçador de vampiros.
7. Não sei se por falta de tempo ou por falta de zelo na adaptação do mangá, no qual a trama parece mais bem amarrada, mas algumas pontas terminam soltas no anime. Na maior parte das vezes, foram coisas pequenas ⎼ detalhes, até ⎼ mas que eu senti falta de um maior desenvolvimento: as motivações de alguns atos, o funcionamento das coisas na cultura vampírica, como tal acontecimento se deu... Como disse, pormenores que no quadro geral acabam por fazer a diferença.
Eis a questão
Em um plano geral, Vampire Knight é um anime que vale a pena assistir caso você esteja procurando uma obra apenas para uma diversão de momento sem muito compromisso (e se não se incomodar com o absurdo da donzela em perigo). É simples, rápido e cumpre aquilo que promete: entretenimento. Eu não assistiria novamente por preguiça de como construíram e apresentaram a Yuuki, mas o Zero continua sendo um personagem que mora no meu coração. Valeu pela nostalgia!
Ufa! Ainda estão por aí? Vocês já assistiram ou ouviram falar de Vampire Knight? Se não, têm interesse em assistir? Me contem nos comentários se vocês curtiram esse tipo de conteúdo!
VOA, LIBELINHA
VOA! 🙘