Dominação é apenas questão de inteligência
Os humanos estão no topo da cadeia alimentar, e isso nos dá uma série de regalias. Temos os mais diversos meios de dominância em nosso planeta, o que nos possibilita realizar basicamente o que estiver no campo de nosso desejo ⎼ e ao alcance de nossa tecnologia, que avança conforme a demanda exploratória inerentemente humana. Essa zona de conforto está aí há tanto tempo que nos acostumamos com sua presença: sequer imaginamos como seria se nosso planeta não se organizasse dessa forma. O que aconteceria, afinal, se não fossemos a espécie dominante no planeta? Ou, ainda pior, como seria se a outra espécie dominante nos considerasse como meros animais de intelecto mínimo?
Ulysse Mérou é um jornalista de certa prodigiosidade, sem família e com um talento considerável no jogo de xadrez. Estas e outras características o levaram a ser escolhido, pelo filantropo Professor Antelle, para tripular sua veloz nave espacial numa viagem até o sistema da estrela gigante vermelha Betelgeuse. Uma vez avistado seu destino, encontram também um pequeno planeta o qual batizam como Soror, que possui condições climáticas semelhantes às da Terra e decidem nele pousar. Em suas selvas, descobrem que o planeta é habitado por humanos, mas o que não esperavam era que ali seus semelhantes eram desprovidos de tudo que lhes caracterizava como seres desenvolvidos. Eram simples animais em corpos humanos.
"Seus olhos não tinham cor: eram de um cinzento bem pouco comum em nós, mas não excepcional. A anomalia estava em sua emanação: uma espécie de vazio, uma ausência de expressão, que me evocava um pobre demente que eu conhecera em outros tempos. Mas não; não era isso, não podia ser loucura!"
Não bastasse o fardo de ver pessoas como você se comportando de maneira animalesca ⎼ nuas, urrando e atacando uns aos outros sem a menor noção do que é ser civilizado ⎼, os desbravadores descobrem ainda que Soror era habitado por criaturas sapientes no mínimo inesperadas: macacos, dos mais diversos tipos, desde gorilas, até os chimpanzés e os orangotangos. Esses símios desenvolveram em seu mundo uma sociedade análoga à nossa, com carros, laboratórios e tudo que conhecemos tão bem como produtos de uma civilização amplamente evoluída. É esse lugar paradoxalmente inóspito e familiar que Ulysse nos apresenta, narrando as maneiras que encontrou para sobreviver em meio a este cenário.
Literalizando...
Dotado de uma narrativa surpreendentemente fluida, O Planeta dos Macacos surpreende pela facilidade de leitura e imersão profunda. Com uma linguagem rebuscada apenas o suficiente para dar o clima pretendido na obra (pelo menos nessa edição da Aleph), acompanhamos os passos do protagonista através de um relato em primeira pessoa que não economiza quando o quesito é compartilhar os pensamentos e reflexões do personagem. Logo nos vemos aflitos por todo tipo de situação que o protagonista se envolve ⎼ e não podemos esquecer que este vínculo com o personagem é facilitado pelo fato de ser um dos únicos humanos em um planeta repleto de símios. A trama é envolvente e consegue gerar tensão constante, sem exageros. É certamente um livro que captura a atenção para além das adversidades narradas, fomentando também discussões profundas sobre o papel da ciência e do homem.
"Era um gorila, estou lhes dizendo! Do colarinho da camisa saia a hedionda cabeça terminada numa protuberância coberta de pelos negros, com o nariz achatado e as mandíbulas saltadas. Estava ali, de pé, um pouco curvado para frente, na postura do caçador emboscado, apertando um fuzil em suas longas mãos."
Não podemos deixar de notar que a proposta da trama é um tanto quanto... antiquada. Há quem diga que a falta de plausibilidade da história a torna estranha e até mesmo engraçada: como, por exemplo, a existência de um planeta nos confins da galáxia com fauna e flora idênticas à da Terra (além de outros detalhes). O que não podemos esquecer é que O Planeta dos Macacos foi escrito em 1963, época em que os movimentos de exploração espacial estavam estourando globo afora: neste mesmo ano, as primeiras sondas alcançavam a lua e os astronautas ainda faziam voos breves acima da atmosfera. Claramente, todos estavam empolgados com as possibilidades que se abriam com estes avanços tecnológicos ⎼ afinal, ninguém sabia o que poderia existir além de nosso alcance e inúmeras teorias borbulhavam: como a do próprio Boulle, que investiu com tanto afinco em suas ideias que gerou um clássico indiscutível da ficção científica.
O Planeta dos Macacos é uma obra de ficção científica que reflete sobre a dominância do ser humano perante a Terra e os animais através de uma inversão radical de papéis, com o intuito de causar estranheza e certa revolta. É uma leitura rápida e leve, com uma trama sem muitos rodeios ⎼ além de ser uma ótima pedida para iniciantes na ficção científica, já que não se utiliza dos famosos jargões do nicho.
"Confio este manuscrito ao espaço não com a finalidade de conseguir socorro, mas para ajudar, talvez, a banir o pavoroso flagelo que ameaça a raça humana."
Aleatoriedades
- O Planeta dos Macacos foi um livro muito aguardado, pois namorei ele por um booooom tempo antes de comprar. A espera valeu cada segundo!
- Foi este livro maravilhoso que me fez começar a amar a Aleph, então acabo tendo um carinho bem grande com ele (além de ser bom tem um trabalho gráfico lindo!)
- Nunca pensei que ia gostar tanto do livro. Sempre achei a premissa de um planeta com macacos meio furada. Bem, engulo minhas palavras.
Ufa! Ainda estão por aí? Vocês já leram "O Planeta Dos Macacos"? Se sim, o que acharam do livro? Se não, têm interesse em ler? Já viram algum dos filmes também? Me contem nos comentários!
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VOA, LIBELINHA
VOA! 🙘